Cigano ou Lenormand?
No mundo das cartas, são muitas as confusões e uma delas é, sem sombra de dúvida, a dificuldade em se diferenciar o que chamamos de “baralho cigano” do “baralho Lenormand”. Então vamos lá, de uma maneira bem simples, entendermos um pouquinho mais sobre isso.
O baralho Lenormand tem origem europeia, foi baseado em um jogo muito popular na corte francesa na época de Napoleão Bonaparte, chamado “O jogo da Sorte”. Acreditava-se que essa adaptação do jogo para o oráculo havia sido feita pela Madame Lenormand, uma cartomante muito famosa na época, que atendia inclusive membros da nobreza. Contudo, não se pôde comprovar esse fato, e há os que defendam, que embora tenha levado o nome Lenormand, uma homenagem talvez, o baralho tenha sido criado depois de sua morte, e cogita-se ter sido um sobrinho dela – o único e herdeiro de sua fortuna – o verdadeiro autor do baralho Lenormand. Mesmo com uma história confusa, fato é que o Baralho Lenormand se estabeleceu com sucesso entre os esotéricos, atravessou séculos e até hoje é considerado uma referência na a arte de ler as cartas.
Sabemos também que os ciganos são os mestres tanto na quiromancia quanto na cartomancia. Esse povo carrega em sua história a sina de conversar com as linhas infinitas do destino. Com toda essa tradição, houve com o tempo, uma adaptação das cartas do baralho Lenormand para as cartas ciganas, o que seria natural, se pensarmos na ligação direta que os ciganos têm ao longo dos séculos com a prática da leitura de cartas. As duas modalidades popularizaram-se, embora seja muito importante lembrar aqui, que as ciganas liam as cartas do baralho comum, certo? Podemos comprovar esse fato só de olharmos para a cronologia da prática da leitura de cartas e a história da origem tanto do Lenormand quanto do baralho cigano propriamente dito.
Dada a semelhança dos significados de seus símbolos, é muito comum a confusão entre os dois, e digo mais, muito comum também transitarmos entre um baralho e outro sem qualquer problema, já que sua simbologia de um e de outro é a mesma. Também possuem o mesmo número de cartas: 36. Outra semelhança entre eles é a presença dos naipes nas cartas, embora nem todos os que leem o baralho cigano levem em consideração os naipes como o fazem os lenormancistas. Agora vamos lá, então qual a diferença entre eles?
Um e outro
Embora os dois baralhos apresentem os mesmos elementos de representação, tenham o mesmo número de cartas e respeitem a mesma ordem das cartas, o baralho Lenormand usa como símbolos, elementos típicos da corte europeia, dada sua origem, é claro. Já os baralhos ciganos, com base na cultura do povo cigano, substituíram alguns símbolos adequando-os ao seu contexto. Então vamos lá, alguns exemplos para você entender melhor: as cartas 28 e 29 – O Homem e A mulher – respectivamente. Enquanto no Lenormand temos a figura da Dama e do Cavalheiro (diferente de cavaleiro, carta 1) – típicos da nobreza europeia, nos baralhos ciganos, esses mesmos elementos são representados pela figura do Cigano e da Cigana respectivamente. Já a carta do Chicote (11 nos dois baralhos), símbolo de poder, conflito e disputa, no Lenormand é o Chicote e em alguns baralhos ciganos (nem todos), temos a representação da Adaga – arma típica da cultura cigana. Outro elemento, A Casa, a carta 4 tanto no Lenormand quanto no baralho Cigano, no primeiro, temos a representação de uma casa grande, típica da nobreza europeia, já nos baralhos ciganos, essa carta é representada por tendas, carroças enfim, pelas moradias típicas do povo cigano. Resumindo, a representação de algumas cartas do Lenormand foi adequada à cultura cigana trazendo mais força à representação desse povo para a cartomancia. Essa inovação fez com que o baralho cigano se popularizasse e se firmasse como um oráculo independente do Lenormand, embora intimamente relacionado a ele.
Se detivermos um olhar um pouco mais atento aos dois baralhos, perceberemos que, apesar das adaptações, os outros elementos permanecem os mesmos, inclusive os animais que, mesmo não sendo todos comuns a nossa fauna, permanecem pois trazem uma forte e sólida simbologia importantíssima para a leitura das cartas: o urso, a raposa, a cobra, o cachorro, os pássaros, a cegonha, os peixes, os ratos, enfim. Outros elementos que não sofreram alteração nessa adaptação: trevo (cartinha que merece uma postagem aqui dado seu significado controverso), a estrela, a Lua, o sol, o livro, o envelope, enfim, por aí seguimos.
Com o tempo e a prática
Os baralhos ciganos assim como algumas edições do Lenormand, vêm sofrendo algumas alterações em suas configurações tradicionais no que se diz respeito ao número de cartas no baralho dando opções para que os cartomantes possam complementar suas jogadas. Essa atualização é fruto de uma preocupação genuína de traduzir os sentimentos típicos do mundo contemporâneo para que a interpretação do jogo seja próxima à realidade do consulente. Não podemos comparar o mundo que deu origem aos oráculos – tanto a um como a outro – e o mundo complexo, denso e intenso em que vivemos hoje, portanto é natural que se lancem mão de outros elementos para que nossa leitura e interpretação seja cada vez mais próxima do contexto a ser interpretado. Cabe também a nós, os que se propõem à prática da leitura das cartas termos um repertório elaborado e uma visão atenta ao contexto de cada leitura para que possamos expandir os significados das cartas fazendo com que nossa leitura se conecte com a nossa realidade e traduza um contexto coerente com a realidade de cada um que se senta a nossa mesa de jogo buscando uma orientação.
Sem mais delongas
Então é isso, espero que tenha ajudado você a entender um pouquinho mais desse mundo fabuloso das cartas.
Boas coisas por aí,
Vento de lua cheia